POESÍA ESPAÑOLA
Coordinación de AURORA CUEVAS CERVERÓ
( Universidad Complutense de Madrid )
EDUARDO JORDÁ
( Espanha )
Eduardo Jordá (nascido em Palma de Mallorca , em 1956 ) é um escritor e poeta palmarense radicado em Sevilha desde 1989 .
Passa a infância em Palma, onde vive numa casa à beira-mar onde ancora as suas raízes. Formou-se em Filologia Hispânica pela Universidade de Palma de Maiorca em 1978 , tendo também a influência dos amigos Allan Baker e Cristóbal Serra. Até sua transferência para Sevilha, ele morou em um hospital no Burundi , uma ilha na Malásia e uma fazenda costeira no oeste da Irlanda.
Na sua atividade de escritor, a sua narrativa situa-se a meio caminho entre a autobiografia, o ensaio, a ficção e a crítica, enquadrada no contexto das suas viagens. Como em sua poesia, o autor se coloca entre a realidade e a ficção, como uma fronteira difusa entre o que é memória e imaginação. Colabora como colunista no ABC Cultural , no Diario de Mallorca e nas publicações andaluzas do grupo Joly. Conjuga a sua actividade literária com a de tradutor.
"-O que você exige de um poema para gostar dele?
-Que contenha os três elementos dessa equação que para mim constitui o pensamento poético: emoção, inteligência e música, nessa ordem. E que essa equação me faça ver o mundo com contornos nunca vistos, com novas luzes, com sombras desconhecidas, com formas inesperadas."
Poesia
A estação das chuvas, 2001. Editorial Renacimiento, SA (Sevilha). ISBN 978-84-8472-022-5 . IV Prêmio de Poesia Renascentista de 2000.
Cidades que passam, 2001. Pré-textos editoriais. ISBN 978-84-8191-405-4.
Três Freixos, 2003 . Edições Península SA. ISBN 978-84-8307-541-8 Madri, 11 de março. Poemas para recordar, 2004. Pré-textos editoriais. ISBN 978-84-8191-615-7 .
Macaco bugio , 2005 . Algaida Editora, SA. ISBN 978-84-8433-620-4 . III prêmio de poesia Ateneo de Sevilla em 2005.
Mais ça reach. 2006. Antologia traduzida para o francês.
Instantáneo, 2007. Fundação José Manuel Lara; Fundação Caja Rural del Sur. ISBN 978-84-96824-25-6 .
TEXTOS EN ESPAÑOL - TEXTOS EM PORTUGUÊS
JORDÁ, Eduardo. Instante. Sevilla, España: Fundación José Manuel Lara/ Vandalia, 2007. 95 p Ex. Bibl. Antonio Miranda
EL TORDO
Lo habían atrapado en una red
untada de materia muy viscosa.
Desde el amanecer hasta la noche
intentó desprenderse.
Desde el amanecer hasta la noche
quiso extender las alas
y volar hacia el mar o las colinas.
Cuando lo vi, miraba exhausto
la voz agónica:
su propia luz,
su propio corazón,
su propia vida.
Quizá había volado desde Rusa
o más lejos aún.
Llevaba, sin saberlo, en su cuerpo agotado
las estepas sin fin,
las sombras movedizas de las nubes.
el frío amanecer en un estanque,
las estrellas, el sol, y cien lunas
del otoño y la siega,
y el viento fatigado y el viento rabioso
(y a los dos los había derrotado).
Tenaz, muy orgulloso,
lo intentó una vez más,
aunque nunca llegó a extender las alas.
Así murió. Y así quiero morir.
SÁBADO SANTO
Calles vacías, aire tibio, nada
se mueve en la ciudad, ni los vencejos.
Hasta los locos callan, temerosos
del diario viscoso del silencio.
Ya ha terminado todo. Y la señal
no le ha llegado a nadie. Ahora sabemos
que no va a haber señal, pues fue un delirio
de nuestros corazones muy hambrientos
—y frágiles, y solos, y sonámbulos—
aquello que soñamos sin ser cierto.
La vida aquí termina, en una gruta
sellada con la roca y con el miedo.
Es la tierra voraz que nunca miente
la que ahora nos gobierna. No tenemos
ya más que sus escribas y chivatos,
sus soldados, sus dados traicioneros
y sus treinta monedas. Eso es todo.
Lo demás no ocurrió, fue sólo un sueño
que hay que olvidar. El silencio ya habita
en nosotros, y somos el silencio
cargados de presagios incumplidos.
Toc, toc, toc. Sólo se oye al carpintero
desmontando las tres cruces vacías
donde murió la fe en un mundo nuevo.
Las llevarán mañana, blasfemando,
los nuevos condenados al tormento.
DE VUELTA DEL COLEGIO
El olor de los dátiles maduros
irrumpiendo en el aire de noviembre.
La luz ocre que tiembla en una cúpula
mientras cantan los mirlos, y atardece.
Las voces de unos niños en la hierba.
Y en mi mano otra mano, casi ausente.
Todo esto, estoy seguro, volverá
cuando yo nada sepa ni recuerde.
Será quizá una brusca sacudida
entre los nervios de mi carne inerte,
o un espasmo fugaz, o un estallido
de luz en lo profundo de mi mente.
Y tampoco sabré de dónde viene.
PINTURA FLAMENCA
Mientras el rey bebe, la reina
le cambia los pañales a su hijo.
Sobre el estanque helado, la urraca
vuela alegre, y un viejo
agoniza en la choza, bajo un álamo.
Listo sobre el mantel de terciopelo,
hay un plato de arenque
(que brilla aunque ya está medio podrido).
La vieja gobernanta ríe bajo su cofia,
que no oculta su mueca de codicia.
El perro amaestrado
levanta las dos patas en la iglesia
empapada de luz aguamarina.
Sólo los maestros flamencos
pintaron el aliento fétido de un duque,
la mirada lasciva de un sirviente,
los pechos rebosantes de una virgen dormida.
Supieron que la luz era silencio.
Y atraparon la luz
con sumiso fervor,
tal como perseguían a una joven,
porque todos supieron ser silencio,
y le dieron color y forma, y hasta un aroma
a peltre y a baldosas limpias
ya flores casi mustias.
En los húmedos labios de la niña
que duerme en esa cuna de madera,
fíjate bien, la luz se ha convertido
en una tenue aurora boreal.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
O SABIÁ
Haviam-no capturado numa rede
espalhado em matéria bem viscosa.
Desde o amanhecer até à noche
tentou desprender-se.
Desde o amanhecer à noite
quiz estender as asas
e voar até o mar ou às colinas.
Quando eu vi, mirava exausto
a voz agônica:
sua própria luz,
seu próprio coração,
sua própria vida.
Talvez houvesse voado desde a Rússia
ou de ainda mais distante.
Levava, sem saber, em seu corpo esgotado
as estepes sem fim,
as sombras moventes das nuvens,
o frio amanhecer em um tanque,
as estrelas, o sol, e cem luas
do outono e a colheita,
e o vento fatigado e o vento raivoso
(e aos dois os havia derrotado).
Tenaz, muito orgulhoso,
tentou uma vez mais,
embora nunca chegasse a estender as asas.
Assim morreu. E assim quero morrer.
SÁBADO SANTO
Ruas vazias, ar morno, nada
se move na cidade, nem os andarilhos.
Até os loucos emudecem, temerosos
do diário viscoso do silêncio.
E tudo terminou. E o sinal
não chegou a ninguém. Agora sabemos
que não vai haver sinal, pois foi um delírio
de nossos corações bem famintos
—e frágeis, e solitários, e sonâmbulos—
aquilo que sonhamos sem certeza.
A vida aqui termina, numa gruta
selada com a rocha e com o medo.
É a terra voraz que nunca mente
a que agora nos governa. Não temos
nada mais que seus escribas e bufos,
seus soldados, seus dados traiçoeiros
e suas trinta moedas. Isso é tudo.
O demais não aconteceu, era apenas um sonho
que devemos esquecer. O silêncio já habita
em nós, e somos o silêncio
carregados de presságios não realizados.
Toc, toc, toc. Apenas se ouve o carpinteiro
desmontando as três cruzes vazias
onde morreu a fé em um mundo novo.
Vão ser levados amanhã, blasfemando,
os novos condenados ao tormento.
DE VOLTA DO COLÉGIO
O odor das tâmaras maduras
invadindo o ar de novembro.
A luz ocre que estremece numa cúpula
enquanto cantam os melros, e entardece.
As vozes de uns meninos na relva.
E em minha mão outra mão, quase ausente.
Tudo isto, estou seguro, voltará
quando eu nada saiba nem recorde.
Será talvez uma brusca sacudida
entre os nervos de minha carne inerte,
ou um espasmo fugaz, ou um lampejar
de luz na profundeza de minha mente.
E tampouco saberei de onde vem.
PINTURA FLAMENCA
Enquanto o rei bebe, a rainha
troca as fraldas de seu filho.
Sobre e tanque gelado, a gralha
alegre, e um velho
agoniza a choça, abaixo um álamo.
Pronto sobre o manto de veludo,
está um prato de peixe
(que brilha a pesar de estar meio podre).
A velha governanta ri debaixo de sua touca,
que na oculta seu sorriso de cobiça.
O cão amestrado
levanta as duas patas na igreja
encharcada de luz água-marinha.
Apenas os mestres flamencos
pintaram o alento fétido de um duque,
a mirada lasciva de um servente,
os peitos repletos de uma virgem dormida.
Sabiam que a luz era silêncio.
E a luz
com submisso fervor,
tal como perseguiam uma donzela
porque todos sabiam ser silêncio,
e lhe doaram coar e forma, e até um aroma
a estanho e a baldosas limpas
agora flores quase murchas mustias.
Nos úmidos lábios da menina
que dorme nesse ninho de madeira,
veja bem, a luz se converteu
numa tênue aurora boreal.
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Página publicada em janeiro de 2023
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